Caíram as Máscaras

Publicado: 13/09/2022 em muito feliz

No início era bizarro. Comecei a ver o uso das máscaras há pouco mais de dois anos com a chegada da covid-19 no bairro da Liberdade, reduto da colônia japonesa. Alí é muito comum ver até as criancinhas de máscaras, faz parte da cultura oriental. Aos poucos fui me habituando e logo o uso das máscaras se tornou obrigatório. E brasileiro que vê criatividade em tudo, arrumou um bom nicho de mercado e logo começamos a usar como adereço de moda, com cores, estampas, brilhos, tipos de tecido, só faltou colocar leds sincronizados com o ritmo da vida louca que levamos.

Aquilo virou febre e diversão em combinar com os looks. Até as poucas noivas que se casaram na pandemia, tiveram máscaras rendadas e bordadas em perolas, tudo de acordo. Quando passou a ser obrigatoriedade, perdeu a graça. Foi nesse momento que a mulherada percebeu que os batons venceriam sem uso e os homens barbados estavam em dificuldade de encaixar o adereço.

O ser humano é assim, obrigue-o a algo e a briga começa. Ao longo desses dois anos e meio presenciei brigas e discussões pela afronta de não usar a máscara nos transportes e ambientes fechados. Muitos vídeos nas redes sociais flagraram cenas inenarráveis. Em contrapartida, as crianças em sua inocência trocavam entre si suas máscaras de super-heróis e princesas. De repente esfriou o modismo. Cansei de lavar as máscaras na mão, passar o ferro quente e combinar com a roupa. Comprava pacotes de máscaras descartáveis preta e era isso. Os camelôs vendiam 50 por dez reais e todo mundo passou para essa nova fase: a de odiar a proteção.

Se no início era estranho ver alguém com, de repente era desconfortável ver alguém sem. E depois de quase todo mundo vacinado até a quarta dose, foi chegando o momento de “desfraldar” aos poucos, liberando os ambientes, as festas e as ocasiões, mas o transporte público persistia o uso até que….

Chegou o momento de desmascarar geral. É a hora que caem as máscaras (alguns não precisam pois já conhecemos). O decreto municipal e estadual pegou muita gente de surpresa da noite pro dia. Confesso que nem lembrava mais o rosto do motorista do ônibus. Que alegria a minha poder voltar a usar batom.

Passou nem uma semana e entrei em crise existencial. Quem era eu sem poder resmungar por baixo da máscara? Poderia mesmo andar por aí assim? Seria um problema se fosse a única em tal condição, mas logo aquietei pois descobri uma legião de pessoas inseguras. Precisaremos todos de um tempo pra acostumar, re-socializar.

Realmente, nunca mais seremos os mesmos. Gente mostrando sorrisos, outros mostrando os dentes. Quem você se tornou depois de cair as máscaras? Vamos todos pra terapia…

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